MANUEL QUERINO PDF, LIVRO E BIOGRAFIA

Manuel Querino PDF 

 

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Manuel Querino Livro em PDF Arte Culinária na Bahia

Livro de culinária baiana
Livro de culinária baiana de Manuel Querino

 

Biografia de Manuel Querino

O intelectual baiano Manuel Raimundo Querino amou profundamente o passado e as tradições. O seu livro “A Bahia de Outrora”, escrito sem preocupações de sociólogo, é um magnífico repositório de observações de todo um passado da vida social baiana. Muita coisa terá o estudioso a colher nesta interessante documentação: sobrevivências africanas, autos populares, vida social no século passado, múltiplas questões sociológicas a que apenas teria que dar uma nomenclatura científica: mobilidade social, distâncias sociais, problemas de casta e de classe, color line, assimilação, aculturação… que sei mais? O que outros fizeram com relação a outros setores da civilização brasileira, fê-lo Manuel Querino, na Bahia, modestamente, sem alardes, sem exibição científica, mas com os mesmos propósitos de análise das relações de raça e de cultura, principalmente entre o africano  e o luso-brasileiro, na nova sociedade em formação.

 

Por isso tudo, “A Bahia de Outrora” deve constituir um dos livros clássicos, para o conhecimento dos problemas de origem e formação da vida social e familiar, no Brasil. Os outros trabalhos seus, sobre problemas culturais e sociais, giram em torno destes dois estudos citados. “O colono preto como fator da civilização brasileira”, “A arte culinária da Bahia” e outros artigos de menor porte, acentuam a contribuição do africano na obra de formação da sociedade brasileira.

 

Manuel Raymundo Querino nasceu a 28 de julho de 1851, na cidade de Santo Amaro, na Bahia. A sua infância foi atribulada, como aliás toda a sua vida. A epidemia de 1855, em Santo Amaro, levou-lhe os pais. Foi confiado aos cuidados de um tutor, o professor Manuel Correia Garcia, que o iniciou nas primeiras letras.

Tendo apenas o curso primário, Manuel Querino lançou-se a aventura, aos 17 anos, alistando-se como recruta, viajando pelos sertões de Pernambuco e Piauí, e aí unindo-se a um contingente que se destinava ao Paraguai, em 1865.

O seu físico franzino não lhe permitiu, porém, como era o seu desejo, combater nos campos do Paraguai. Ficou no Rio, onde, por suas habilitações, ficou empregado na escrita do quartel, a que pertencia. Em 1870, foi promovido a cabo de esquadra, e logo depois teve baixa do serviço militar.

Voltando à Bahia, começou a trabalhar nas fai- nas modestas de pintor e decorador. Sobrava-lhe tempo, porém, para estudar francês e português, no Colégio 25 de Março e no Liceu de Artes e Ofícios, de que foi um dos fundadores. Com as suas inclinações para o desenho, matriculou-se na Escola de Belas Artes, onde se distinguiu entre os primeiros alunos. Obteve o diploma de desenhista em 1882. Seguiu depois o curso de arquiteto, com aprovações distintas. Obteve várias medalhas em concursos e exposições promovidos pela Escola de Belas Artes e o Liceu de Artes e Ofícios.

Distinguiu-se no magistério, exercendo os cargos de lente de desenho geométrico no Liceu de Artes e Ofícios e no Colégio dos Órfãos de S. Joaquim.

Interessou-se pela política. Foi republicano, liberal, abolicionista. Com Virgílio Damásio Lellis Piedade, Spindola de Athayde e outros do grupo da Sociedade Libertadora Sete de Setembro, assinou o manifesto republicano de 1870. Fundou os primórdios “A Província” e o “O Trabalho”, onde defendeu os seus ideais republicanos e abolicionistas.

Combateu, na Sociedade Libertadora, e em outros núcleos, ao lado de Pamphilo da Santa Cruz, diretor da “Gazeta da Tarde”, Eduardo Carigé, Sérgio Cardoso, Anselmo Fonseca, Frederico Lisboa, Rogaciano Teixeira, César Zama e tantos outros, todos empolgados pela campanha abolicionista, na Bahia.

 

Manuel Querino foi um dos mais ativos trabalhadores do grupo, havendo escrito para a “Gazeta da Tarde”, uma série de artigos sobre a extinção do elemento servil.

Bateu-se pelas causas trabalhistas e operárias, tornando-se um verdadeiro líder da sua classe, em campanhas memoráveis, que o conduziram à Câmara Municipal. Ali – escreve um dos seus biógrafos – foi ele contrário às leis de exceções, às reformas injustas, descontentando aos senhores da situação, mas ao mesmo tempo ganhando as simpatias daqueles que seriam prejudicados por tais reformas, que apenas serviriam para acomodar a amigos e protegidos da situação dominante. Nessa mesma ocasião formou um bloco com outros e por uma indicação fez voltarem aos seus cargos vários funcionários dispensados por uma reforma injusta; e isso custou-lhe a não reeleição, retirando-se satisfeito para a sua obscuridade, desvanecido de que soubera cumprir o seu dever, ficando bem com a sua consciência de funcionário público.

E assim foi toda a sua vida. No seu modesto cargo de 3º oficial da Secretaria da Agricultura, sofreu os mais incríveis vexames. Foi consecutivamente preterido em todas as ocasiões em que lhe foi promovida. Esqueceram-no os poderosos do momento. Secretários e chefes de serviço se desinteressavam-se da sorte do Negro, que iria passar um dia à historia do seu país. Onde estão todos eles? Quem se lembra de seus nomes? Servirão para se contar apenas, em futuro, a história do funcionalismo no Brasil, funcionalismo sem quadros técnicos fixos, oscilando entre as vontades dos poderosos do momento.

Manuel Querino foi bem o símbolo deste tipo de funcionário médio, trabalhador e cumpridor de seus deveres, mas sem a regalia desta coisa incrível que no Brasil foi batizado com o nome de pistolão. Dito simplesmente, Manuel Querino foi um funcionário sem pistolão.

Foi reformado administrativamente em 1916. amargurado e descrente, refugiou-se no Matatu Grande, no aconchego de sua família e dos seus amigos, ou nas reuniões do Instituto Geográfico e Histórico acolhia carinhosamente o brasileiro descendente de africanos, que tantas páginas decisivas escrevera o destino do seu povo em terras do Novo Mundo. Os homens de ciência compensaram o que não souberam fazer os homens do governo.

Manuel Querino faleceu a 14 de fevereiro de 1923. E então os seus trabalhos começaram a ter certa notoriedade na Bahia. Inscreveram-se louvores à sua memória. Os seus biógrafos contaram a história do hu- milde professor negro, do artista devotado ao seu tra- balho, do exemplar chefe de família e amigo dedicado, do defensor das causas dos trabalhadores e operários do seu nivel, do estudioso das questões do Negro no Brasil. A 13 de maio de 1928, inaugurando o seu retrato juntamente com o do grande mestre Nina Rodrigues, a Casa da Bahia prestou-lhe uma homenagem à altura dos seus méritos. Justificando essa homenagem, escreveu Bernadino de Souza que foram eles, Nina Rodrigues e Manuel Querino,“até agora na Bahia, os dois maiores estudiosos da raça africana” .

Seu nome – falou Antônio Vianna, traçando-lhe o perfil, na ocasião – seu nome visceralmente ligado ao problema libertador, intimamente unido ao movimento operário no Brasil, confundindo nos maiores ideais de independência e de evolução, seu nome ficará para honra do seu tempo definindo as qualidades elevadas do homem de cor. 

“Estudando os seus irmãos, Manuel Querino estudou a si mesmo. Descobrindo riquezas no sangue e na alma do preto, denunciou a matéria de que ele mesmo era feito, dessa matéria de heróis, dessa matéria de fortes…”

Escreveu muitos trabalhos, entre livros, monografias e simples artigos de revista e de jornal. Podemos citar, entre os seus trabalhos principais: “As artes na Bahia”; “Desenho linear nas classes elementares”; “Elementos de desenho geométrico”; “Artistas Baianos”; “A raça africana e seus costumes na Bahia”; “O colono preto como fator da colonização brasileira”; “Bailes pastoris”; “A Bahia de outrora”; “A arte culinária na Bahia” (publicação póstuma); vários artigos na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: “Notícia histórica sobre o 2 de julho e sua comemoração”; “Os homens de cor preta”;“Um baiano ilustre”; “Candomblé de caboclo”…

 

Arthur Ramos

Rio, janeiro de 1938